Depois de uma semana sem escrever, que voltar falando sobre nossas vidas como um palco, em que somos os atores, os coadjuvantes e também a platéia.
Podemos passar o tempo inteiro de nossas existência ensaiando, assim veríamos as maravilhas que apresentamos, veríamos os cenários, veríamos as conquistas, os aplausos. Mas teríamos o prazer de transformar-mo-nos em Narcisistas ensaiando e apresentando a si mesmos.
01. O Fortuna
O Fortuna
velut luna
statu variabilis,
semper crescis
aut decrescis.
vita detestabilis,
nunc obdurat
et tunc curat;
ludo mentis aciem,
egestatem,
potestatem
dissolvit ut glaciem.
| 01. Ó Fortuna
Ó Fortuna
és como a Lua
mutável,
sempre aumentas
e diminuis;
a detestável vida
ore escurece
e ora clareia
por brincadeira a mente;
miséria,
poder,
ela os funde como gelo.
|
Sors immanis
et inanis,
rota tu volubilis,
status malus,
vana salus
semper dissolubilis,
obumbrata
et velata
michi quoque niteris;
nunc per ludum
dorsum nudum
fero tui sceleris.
| Sorte monstruosa
e vazia,
tu – roda volúvel –
és má,
vã é a felicidade
sempre dissolúvel,
nebulosa
e velada
também a min contagias;
agora por brincadeira
o dorso nu
entrego à tua perversidade.
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Pode-se ainda ser a platéia, assistir própria vida correr como um barco que se lança num mar desconhecido e deixar a própria história correr como uma coisa qualquer, como uma novela que não se sabe onde se quer chegar. Aqui também está o risco do Narciso se mostrar, pois assistiríamos a si mesmos destruir-se como O Mito Grego, que olhando pra si mesmo definhou até a morte por estar apaixonado pro si mesmo.
Sors salutis
et virtutis
michi nunc contraria,
est affectus
et defectus
semper in angaria.
Hac in hora
sine mora
corde pulsum tangite;
quod per sortem
sternit fortem,
mecum omnes plangite!
| A sorte na saúde
e virtude
agora me é contrária.
dá
e tira
mantendo sempre escravizado.
nesta hora
sem demora
tange a corda vibrante;
porque a sorte
abate o forte,
chorais todos comigo!
|
O verdadeiro caminho para fazer o hoje e a apresentação na "Roda da Fortuna", é deixa-la girar apresentando cada dia e cada cena com a participação de outros personagens. Numa vida saudável seremos ora personagem principal, ora coadjuvante e ora platéia, não se pode ser tudo ao mesmo tempo, se faz necessário ver outros seguirem (platéia), ajudar outros a seguirem (coadjuvante) noutras ser o ator principal que revela seus talentos no quotidiano.
A vida é por demais fantástica para poder viver como um único ator. A sorte está girando a favor de quem assume o papel diário e vive o seu lugar.