Neste tempo se evocam sentimentos
guardados em nós durante o ano todo. As luzes, as árvores iluminadas, as casas
enfeitadas. O clima de natal.
Parece que fazemos isso para esquecer as
dores e angustias vividas ao longo de todo o ano, e para fazer isso precisamos
trazer à tona sentimentos mais íntimos, quase esquecidos.
A sensação que o natal traz é a busca da inocência
e da pureza. Coisas que perdemos com o passar dos anos, e estamos tentando
roubar, daqueles que ainda tem as crianças.
Lembro-me das horas que passávamos, eu e
meus primos, cantando e ouvindo harpa natalina, sob a luz do luar, ao som das
cigarras do sertão, que anunciavam o verão e o natal. A casa ficava, ano com
cheiro de pinheiro, ano com cheiro de laranjeira, por ser as arvores usadas na
decoração. Ainda lembro-me de um ano, que não tínhamos dinheiro para comprar as
bolas coloridas e sai a catar embalagem de cigarros, para forrar pequenas
laranjas para servir de enfeite a nossa arvore. Como era lindo ver aquele
pisca-pisca com lâmpadas grandes, a espera do grande dia, contávamos os dias
para que ele chegasse. O Papai Noel era figura secundaria, trazia presentes,
mas quem brilhava era Jesus, que na minha infância estava nascendo lá na
Capela, naquele presépio enorme, feito com um Pinheiro Gigante, de Cerca de
três metros de altura.
Pois, hoje a cidade está enfeitada, o único
esquecido é dono da Festa, se evocam tantos sentimentos, amor, paz, harmonia,
desejos mais profundos, mas, esquece que tudo isso veio a nossa cultura por
causa do Cristianismo e principalmente da Igreja Católica.
O que vejo? Correria, comerciários
angustiados porque terão que trabalhar dias e dias até mais tarde, angustia
pelo dinheiro que não vai dar. Mas, entretanto, ainda dentro de cada um a busca
por alguma coisa, que seja Belo, Bonito e Bom, ainda continua a palpitar.
Filocalia, palavra grega que significa
"amor à beleza". Estamos precisando mesmo retornar ao mais profundo
das coisas, o belo foi tornado feio, a harmonia tornada obsoleta, o bom tornado
impróprio. Parece que as coisas perderam os sentidos, os lugares e o jeito
certo. A beleza atual é vulgar, sexuada, prostituída para ser comprada, adquirida.
O harmonioso não tem mais lugar, pois ele arranha alguns, que não querem se
enquadrar, mas que desejam enquadrar outros em sua desarmonia. O Bom, este
quase esquecido, ser bom, virou sinônimo de bobo, de engolir tudo, de ser
politicamente correto.
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